Um fantasma chamado Wanda
Dan Greenburg
Quando o primeiro fenômeno sobrenatural ocorreu aqui em casa, nem percebi direito o que estava acontecendo. Justo eu, que gosto tanto de coisas estranhas… quer dizer, contanto que elas não me assustem muito.
Bom, melhor contar para você quem sou. Meu nome é Zeca. Tenho dez anos. E acho que sempre fui interessado nessas coisas esquisitas. Tipo lobisomem, vampiro, zumbi e casa que tem torneira que solta sangue no lugar de água. Uns negócios assim.
Para falar a verdade, eu nunca vi nenhuma dessas coisas, não. Mas também, só tenho dez anos.
Bom, deixa eu continuar minha história. Já faz uns meses que isso aconteceu: acordei no meio da noite com todas as portas do apartamento abrindo e fechando. A porta do quarto do meu pai, do meu quarto, do banheiro, do armário. Elas ficavam abrindo e fechando sozinhas, sem parar. Eu pensei: “Tudo bem, deve ser o vento”. E peguei no sono de novo. Se naquela noite eu soubesse o que estava acontecendo de verdade, acho que não teria ficado assim tão calminho.
Quando acordei no dia seguinte, a primeira coisa que reparei foi na bagunça que tinha virado o meu quarto. Bom, eu não quero que vocês imaginem a coisa errada. Meu quarto está sempre na maior bagunça. Mas naquele dia, estava uma zona completa.
As calças que eu tinha tirado na noite anterior e jogado no chão estavam penduradas nas cortinas da janela. Os tênis que eu tinha jogado no canto estavam dentro da cesta de lixo. Minha camiseta estava pendurada no lustre. Minhas cuecas tinham ido parar na cabeça do meu ursinho de pelúcia. Eu tinha certeza absoluta de que não tinha feito essas coisas. E nem podia imaginar quem é que tinha espalhado minhas roupas daquele jeito.
Arrumei toda a bagunça o mais rápido possível. Não fiz isso por gostar do meu quarto em ordem. Fiz porque não queria ver meu pai entrando lá e dizendo:
__E aí, filho, o que é que está fora do lugar?
Meu pai é genial, eu adoro ele. Mas é fanático por limpeza. E eu detesto quando entra no meu quarto e diz:
__E aí, Zeca, que tal dar uma geral?
Quando terminei de arrumar o quarto, fui ao banheiro escovar os dentes. E foi lá que encontrei uma bagunça ainda maior. Alguém tinha lambuzado o espelho com espuma de sabonete. E colado o assento na privada com esparadrapo. Seria algum cara querendo aprontar comigo? Ou será que tinha alguma coisa esquisita rolando?
__ Zeca, você já acordou? – era meu pai chamando do corredor.
__ Já, pai – respondi.
Ele enfiou a cabeça pela porta do banheiro.
__ Tudo bem – ele disse.
Voltei para meu quarto e fiquei de boca aberta. O quarto tinha ficado na maior bagunça outra vez. Além disso, todos os fios elétricos estavam enrolados. E alguém tinha pintado um bigode e barba na foto da minha avó Lia. Só podia ser alguém aprontando comigo. Tinha mesmo alguma coisa estranha rolando.
__ Que tal dar uma geral? – perguntou o meu pai.
Deu para perceber que meu pai estava bravo com aquela bagunça.
Meus pais são separados. Eu passo uma parte do tempo com ele, outra com minha mãe. A casa do meu pai sempre foi mais organizada que a da minha mãe. Quer dizer, até agora.
__ Pai – eu disse – acabei de arrumar o quarto, tá? Faz um minutinho, antes de ir escovar os dentes no banheiro, eu juro. Sei que isso parece coisa de louco, mas acho que tem alguma assombração aqui, ou coisa do gênero.
__ Zeca, eu não ligo se você de vez em quando fica com preguiça e larga o seu quarto na bagunça – disse o meu pai – Mas detesto mentira.
__ Eu não estou mentindo – respondi – É verdade que arrumei o quarto faz um minuto! Não fui eu quem fez essa zona aqui.
A cara do meu pai era de quem estava acreditando. Mas, bem naquela horinha a televisão que fica em cima da estante começou a flutuar. Depois ela voou devagarzinho e aterrissou na minha cômoda sem fazer nenhum barulho.
Meu pai ficou só olhando. Os olhos dele estavam arregalados. Os meus também.
__Você sabe, Zeca – ele disse, depois de um tempão – no final das contas, acho que estou acreditando em você…
Um fantasma chamado Wanda. Dan Greenburg. S.P, Ed. Ática.
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